segunda-feira, 21 de março de 2011

"Sem a música, a vida seria um engano" Nietzsche

Reflexões a respeito da nova paisagem sonora
Juliana Alves Moreira
Graduanda em Música - Licenciatura pela Universidade Federal de Ouro Preto/UFOP
IFAC - Instituto de Filosofia, Artes e Cultura - Campus Morro do Cruzeiro



“Entreouvido no saguão, depois da primeira apresentação da Quinta de Beethoven: - Sim, mas isso é música?
Entreouvido no saguão, depois da primeira apresentação do Tristão de Wagner: - Sim, mas isso é música?
Entreouvido no saguão, depois da primeira apresentação da Sagração de Stravinsky: - Sim, mas isso é música?
Entreouvido no saguão, depois da primeira apresentação do Poème électronique de Varèse: - Sim, mas isso é música?
Um avião a jato arranha o céu por sobre minha cabeça, e eu pergunto: - Sim, mas isso é música? Talvez o piloto tenha errado de profissão?”

É assim que o escritor Murray Schafer inicia suas reflexões em torno na nova paisagem sonora, presentes em sua obra intitulada “O Ouvido Pensante”. Neste capítulo, Schafer nos transporta à sala de aula de música, a fim de descobrirmos qual a nossa função ali. A questão é apresentada: “O que é música?” Nesse contexto, chega-se à conclusão de que é preciso rejeitar todas as definições costumeiras, porque elas não são suficientes para incluir todos os objetos ou atividades referentes à categoria em questão.
O autor chama a atenção para o fato de que não gostava de pensar que a definição de música, objeto do qual ele devotava a sua vida, fosse uma tarefa impossível: “Eu achava que John Cage também não pensaria isso, e então escrevi para ele e lhe pedi sua definição de música. Sua resposta: “Música é sons, sons à nossa volta, quer estejamos dentro ou fora de salas de concerto (...)”. A definição de música como simples “sons” era uma atitude impensável em tempos atrás, mas hoje tem se tornado algo mais aceitável.
Para se compreender melhor o conceito de paisagem sonora, seguem algumas reflexões a respeito das idéias propostas pelo educador M. Schafer no contexto da sala de aula:
O conceito de “Paisagem sonora” e “ecologia sonora” surgiram no final dos anos 1960 com pesquisadores da Simon Fraser University, no Canadá. Liderados por Murray Schafer, este grupo de pesquisa formou o World Soudscape Project (WSP) com a finalidade inicial de estudar o meio ambiente sonoro. Mas, a filosofia de estar atento ao som natural de ambientes já encontrava adeptos entre alguns músicos do século 20 e está presente na obra de vários compositores contemporâneos.
Em suas palestras e aulas, Schafer sugere uma “limpeza dos ouvidos”, ou seja, a expansão de nossa percepção auditiva. Dessa forma, ele nos convida a ampliar nossa escuta, percebendo os sons de diversos ambientes. Para isso, Schafer utiliza estratégias para sensibilizar o ouvido de seus alunos como, por exemplo, fazer um passeio em um supermercado de olhos totalmente vendados. Assim, nos obrigamos a valorizar o nosso sentido da audição.
Essa perspectiva inspirou os educadores musicais e os compositores em geral, pois a percepção ampliada da “paisagem sonora”, de certa maneira, se tornou uma motivação para uma ampliação das possibilidades expressivas da música.
Diferentes povos e culturas criam paisagens sonoras diferentes. A paisagem sonora na qual vivemos nos traz o sentimento de pertencimento, de fazer parte daquele ambiente. Alguns músicos da contemporaneidade inspiram-se nessas diferentes paisagens, criando em suas composições sons que não são produzidos por instrumentos musicais, como Hermeto Pascoal e John Cage, entre outros.
Além dessa perspectiva estética da música, o conceito de “paisagem sonora” amplia a consciência em relação aos sons que queremos manter no nosso ambiente e aqueles sons desnecessários, que nos causam danos.
Apesar de fazer parte da paisagem sonora, a poluição sonora das grandes cidades com ruídos em alto volume impede que as pessoas ouçam as frequências mais baixas, e se torna uma grande inimiga da percepção auditiva por saturar os ouvidos. A poluição sonora da sociedade urbana e industrial muitas vezes "esconde" os sons mais sensíveis dos ambientes.


Referências bibliográficas:
Sugestão: vídeo sobre o tema realizado por Abel Roland para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O vídeo dura 16 minutos aproximadamente.
SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991.
http://www.nics.unicamp.br/nicsnews/002/reportagem.php

quarta-feira, 16 de março de 2011

Psicologia e as fase de desenvolvimento humano!

As fases do desenvolvimento humano e suas singularidades
 José Márcio Carlos

            Quando se pensa no ser humano, a primeira coisa que vem à mente de qualquer pessoa é quanto à referência de em qual fase da vida se encontra tal indivíduo. Isso ocorre porque cada fase do desenvolvimento humano carrega consigo uma singularidade, ou seja, características próprias para aquele momento da existência.
            Tendo em vista estes pressupostos, fica claro que cada etapa em que o ser humano se encontra deve ser vivida em harmonia e em consonância com o grau de amadurecimento concedido pelas características específicas da fase de desenvolvimento vivenciada. Mas, será que este tipo de consciência tem se efetivado e se concretizado no mundo atual?
            O gênero humano não é um ser acabado e nem será, visto que a sua existência é composta de fases. Ao longo da vida, elas sempre sofrem modificações próprias para a continuidade do processo de amadurecimento e crescimento nas várias faculdades humanas (intelectual e espiritual, por exemplo).
            Dentro do seu processo de crescimento, o homem vai também trabalhando sua individualidade, singularidade, pois ele é uma pessoa única tanto em seus aspectos biológicos quanto genéticos. Ele é quem modela o seu próprio estilo de vida, isto é, sua identidade, a fim de que jamais se perca em outros tipos de personalidade.
            A vida de cada pessoa é composta de várias fases de desenvolvimento: infância, adolescência, juventude, fase adulta e velhice. Estas fases não acontecem ao mesmo tempo, com as mesmas qualidades e limitações, porém todos ao seu devido tempo. Não são permanentes, quer dizer, ninguém permanece criança, adolescente, jovem, adulto ou velho eternamente, no entanto somente por certo período de tempo.
            Entretanto, um grande desafio a ser vivido nos últimos tempos tem sido o fato das pessoas estarem incutindo características próprias de uma fase da vida em outras, sem sequer respeitar o grau maturidade daquela outra fase. Já que cada fase é única e singular. Por isso, esta questão merece uma maior reflexão.
            Começando pelas crianças, quando se pensa na infância, as características que mais remetem a este período são o fato de ser para elas os primeiros contatos com a realidade, a liberdade para brincar, sem preocupação ou deveres pendentes, a dependência literalmente dos pais ou responsáveis e etc. Tudo isso para indicar que este contexto é de mais aquisições do que propriamente de obrigações.
            Mas, ao transpor estas características para a realidade, percebe-se que o que tem ocorrido é, na verdade, o contrário. As crianças não estão agindo conforme as características que lhes são próprias. O que se vê são crianças trabalhando no meio rural, lavando pára-brisa de carros, sobretudo, nas grandes cidades, cuidando de outras crianças ainda menores e etc. Este tipo de realidade é prejudicial, pois ela distorce o verdadeiro sentido da infância, assim como a mentalidade das outras pessoas, e poder ser o fator determinante para as futuras decisões da criança.
            O período da adolescência até a juventude é também muito importante e deve ser vivido com muita seriedade, porque é o momento em que o adolescente chega ao período da puberdade e começa a se preparar para as futuras escolhas e realizações de seus sonhos. Após a adolescência, a juventude é uma etapa em que a pessoa passa a colocar algumas decisões em prática como, por exemplo, estudar em uma universidade, início de um namoro e etc.
            O risco que se corre também nesta situação é de enxergá-la já como fase adulta e não como um processo de transição. Às vezes, o adolescente ou o jovem se vê sufocado por cobranças que não fazem parte da etapa em que está vivendo. Por exemplo: certas formalidades ou até mesmo responsabilidades. Eles gostam mais de informalidade, falar “gírias”, se vestir sem muita etiqueta e etc.
            No entanto, a fase adulta, essa sim, carrega em si as responsabilidades que a vida pode oferecer. Enquanto adulto, tem-se a mentalidade de que a pessoa já é um ser formado, pronto para enfrentar e vencer os desafios que possam vir. Imagina-se, nesta conjectura, que a pessoa já esteja com os alicerces da vida bem organizados e os projetos de vida bem executados ou bem trabalhados.
            Porém, pensar dessa forma da fase adulta é também um problema, haja vista que trás alguns prejuízos. O adulto é visto como uma pessoa que não pode errar, que já alcançou o “grau máximo” de amadurecimento e da consciência de si. Ele pode até ter um amadurecimento expressivo, mas não o possui completamente.
            Enfim, a fase da velhice é, de certa forma, o “ápice” do desenvolvimento humano. Ao olhar para trás, o ser humano percebe o quanto caminhou e o quanto cresceu ao longo da vida. E o mais interessante: pode chegar também à conclusão de que inda falta muito para aprender, assim como tem muito a ensinar para os outros com o seu jeito de ser.
            Contudo, a velhice, às vezes, não é compreendida como uma etapa de grande valor da vida, e sim como um período de insuficiência, inutilidade, um estágio de aproximação com a morte. Isso faz com que os valores da velhice sejam distorcidos e não respeitados.
            Tendo em vista todos os aspectos aqui refletidos, nota-se o quanto cada etapa da vida humana é importante e deve ser respeitada, principalmente nas suas diversas características. Cada pessoa deve viver sua vida de acordo com o que é específico de cada etapa, sem se preocupar em saltar etapas ou ser obrigado a ultrapassá-las, a fim de que não haja tantos transtornos para a pessoa e para as próximas gerações vindouras.

terça-feira, 15 de março de 2011

Teologia Bíblica!

O ÊXODO DO EGITO: EXPERIÊNCIA E SINAL DA MANIFESTAÇÃO DA ALIANÇA DIVINA COM O POVO

 José Márcio Carlos

Introdução
           
Como proposta de meditação para este trabalho, foi escolhido o tema do Êxodo do Egito, no qual se pode verificar os sinais da manifestação da aliança que Deus quis fazer com o seu povo. “Deus disse: Façamos o homem à imagem, como nossa semelhança (...)” (Gn 1,26). Conseqüentemente a esta certeza, pode-se notar, ao longo da história, o quanto Deus sempre esteve ao lado do homem, seja nas situações desafiadoras ou não.
Deus sempre manifestou sinais de desejo de caminhar ao lado da sua mais nobre e singular criatura, o gênero humano. Neste sentido, em que circunstância pode-se averiguar com mais clareza os sinais da presença de Deus? Sem dúvida, em todos os momentos do desenrolar da vida humana, mas, sobretudo, nos momentos mais conturbados em que a fragilidade humana se encontra mais em evidência.
Neste sentido, o objetivo desta pesquisa é apontar, em particular, um evento fundamental da história do povo de Israel que atesta a veracidade do relacionamento do ser humano com Deus: a situação deplorável que os descendentes de Jacó tiveram de enfrentar no Egito, isto é, a escravidão. Este evento, ao mesmo tempo em que fora uma experiência catastrófica, também servira de sinal para que os mesmos (também chamados de israelitas ou hebreus) reconhecessem a presença e a adesão divina às suas vidas, resultado da aliança feita ainda à geração de Abraão e estendida a sua posteridade. Por isso, compreende-se que é um tema valioso e que deve ser aprofundado devido ao caráter constatativo do relacionamento de duas realidades, ao mesmo tempo, diferentes, contudo tão próxima: Deus e o homem.

1. Os descendentes de Jacó e o Egito

1.1.    A experiência do povo no Egito: chegada e instalação

Antes de desenvolver a questão do êxodo no Egito, faz-se necessário levar em conta que para se sair do Egito é preciso primeiro ter imigrado para lá. Disso se segue: numa época que não mais se pode determinar com precisão, e muito antes da tomada da terra palestinense, pessoas que pertencem aos precursores e antepassados de Israel chegaram ao Egito. Esse acontecimento deixou rastros na tradição veterotestamentária, tendo como exemplo a citação de Gn 12,10-20 e naturalmente na história de José (Gn 37,1-36)[1].
            Levando em consideração a tradição bíblica que narra a figura de José, percebe-se que esta merece uma atenção especial. Biblicamente, o ponto de partida para a imigração dos descendentes de Jacó se dá com José. Como é narrado em Gênesis 37, seguintes, José era filho predileto de Jacó, pois ele era um filho de sua velhice (Gn 37,3).  Devido aos ciúmes que os outros irmãos tiveram, como vingança, ele fora vendido aos Ismaelitas e levado ao Egito (Gn 37,27-28).
            Contudo, a sorte mudara a partir de um sonho que o faraó teve e no qual José o interpretara corretamente (Gn 41,1-36). Com isso, ele foi premiado como administrador do Egito. Porém, um fato importante que ocorrera foi o reencontro dele com seus irmãos, devido a fome que há dois anos se instalara na terra e ainda haveria expectativa de mais cinco anos sem semeadura e sem colheita, e, sobretudo, por que toda terra vinha ao Egito comprar mantimentos, uma vez havia fartura nesta terra, resultado da interpretação e execução do sonho do faraó. Neste sentido, Jacó pediu aos filhos que viessem ao Egito (Gn 42,1-8).
            Ao ver os irmãos, José, a princípio, deseja vingança, mas como ele erra temente a Deus, não se vingou. Contudo, com discernimento exclamou a seus irmãos: “(...) agora não vos entristeçais nem vos aflijais por me terdes vendido para cá, por que foi para preservar vossas vidas que Deus me enviou adiante de vós. (...) Deus me enviou diante de vós para assegurar a permanência de vossa raça na terra e salvar vossas vidas para a grande libertação” (Gn 45,5-7).
            É interessante observar que a instalação dos descendentes de Jacó no Egito se dará, de fato, envolto de dois argumentos de autoridade: o primeiro, pela iniciativa de José ao dizer: “Subi depressa à casa de meu pai e dizei-lhe: Assim fala teu filho José: Deus me estabeleceu senhor de todo Egito. Desce sem tardar para junto de mim” (Gn 45,9). Já o segundo se dá na figura do Faraó, que ao saber da presença dos irmãos de José, os convida para se estabelecerem na fronteira do Egito, lugar onde há “boas pastagens”[2].
            Entretanto, ir para o Egito é uma atitude segura? Jacó e seus descendentes recebem esta confirmação quando em Bersabéia, onde prestaram sacrifícios ao Deus de seu pai Isaac, recebem um sinal de Deus por meio de uma visão dada a Jacó que dizia: “Jacó! Jacó! E ele respondeu: Eis-me aqui. Deus retomou: Eu sou El, o Deus de seu pai. Não tenhas medo de descer ao Egito, porque lá eu farei de ti uma grande nação. Eu descerei contigo ao Egito, eu te farei voltar a subir, e José te fechará os olhos” (Gn 46,2-4). Ao entrarem nos carros enviados do Egito por José, para lá todos da casa de Jacó[3] partem e se instalam “na terra de Gessen” (Gn 45,10).

1.2. Os primeiros anos no Egito e o início dos sinais de opressão e escravidão
           
Tendo, então, José estabelecido seu pai, irmãos e descendentes no Egito, inclusive na melhor terra, por ordem do faraó Ramsés, conforme explicita Gn 47,11, “aí eles adquiriram propriedades, foram fecundos e se tornaram muito numerosos” (Gn 47,27). Neste sentido, Jacó vivera dezessete anos junto a essas terras, onde também abençoou os filhos de José, Efraim e Manassés (Cf. Gn 48,8-16).
Posteriormente, Jacó abençoara os seus e lhes dara instruções sobre os tempos vindouros (Cf. Gn 49,1-27). Em seguida, sobre o seu leito ele morre (Cf. Gn 49,33). Percebe-se que em tudo o que até agora se realizara com os descendentes de Jacó fora tudo guiado e conduzido pela mão de Deus, a fim de que essa geração, que agora se tornara povo do Senhor, se salve e não pereça.
Desse modo, José e os seus viveram por um bom tempo a mais nas terras egípcias (Gn 49,22-23). Antes, porém de sua morte, José recordara aos seus irmãos: “Eu vou morrer, mas Deus vos visitará e vos fará subir deste país para a terra que ele prometeu, com juramento, a Abraão, Isaac e Jacó” (Gn 49,24).
            Após a morte dos contemporâneos de José, o Egito ficou repleto dos israelitas (dos descendentes de Jacó), que cresciam a cada dia, foram se tornando fecundo e se multiplicando consideravelmente a ponto de se tornarem poderosos, uma vez que o país ficou repleto deles. Como o novo faraó[4] não havia conhecido José, neste sentido, ele percebera que eles poderiam ser uma ameaça ao seu poder e governo. “Eis que povo dos israelitas tornou-se mais numeroso e mais poderoso do que nós. Vinde, tomemos sábias medidas para impedir que ele cresça, pois do contrário, em caso de guerra, aumentará o número dos nossos adversários e combaterá contra nós, para depois sair do país” (Ex 1,9-10).
            A fim de enrijecer e fortificar o Egito, o faraó ordena que os egípcios apliquem uma disciplina rigorosa ao povo de Israel. Por isso, “impuseram a Israel inspetores de obras para torna-lhe dura a vida com os trabalhos que lhe exigiam (...) e tornavam-lhes amarga a vida com duros trabalhos: preparação da argila, a fabricação de tijolos, vários trabalhos nos campos (...)” (Ex 1,11. 14).
No entanto, a questão que mais incomodava o faraó e lhe fazia temer os israelitas era o fato de que “quanto mais os oprimiam, tanto mais se multiplicavam e cresciam” (Ex 1,12). Isso fez com que o faraó Ramsés II tomasse uma séria medida, o qual pode-se denominar como o massacre dos filhos masculinos[5]. Ele ordenou às parteiras do povo de Israel, também denominado como hebreus, de nome Sefra e Fua, que “quando ajudares as hebréias a darem à luz, observai as duas pedras. Se for menino, matai-o. Se for menina, deixai-a viver” (Ex 1,16).
Contudo, elas não o obedeceram, pois temiam a Deus. Mas o faraó ao saber disso e vendo que a geração israelita (hebréia) se multiplicava ainda mais, ele ordena “a todo seu povo: ‘jogai no Rio todo menino que nascer. Mas, deixai viver as meninas’” (Ex 1,22). Estipulado este decreto, assim fora feito. Todavia, um menino foi salvo graças à astúcia de sua mãe. É entregue a uma filha do faraó para ser criado por ela, uma vez que haveria uma aceitação do faraó (Cf. Ex 2,1-9). Quando este cresceu, ele recebeu “o nome de Moisés” (Ex 2,10).

2. O Egito: lugar do encontro com Deus e da manifestação de sua aliança

2.1. A figura de Moisés: Deus escuta o clamor do seu povo

            Imerso em meio às trevas provocado pela escravidão e pela opressão egípcia, eis que um novo sinal da garantia da presença de Deus com o povo se despontará. Este se dará por meio da figura de um homem: Moisés. Como jovem, vendo a exploração de seu povo e intervindo em favor de um israelita sendo maltratado, ele mata um inspetor egípcio e foge para Madiã, onde vai morar com um sacerdote de nome Jetro, com quem se aproxima filialmente e posteriormente toma uma de suas filhas, Séfora, em casamento (Cf. Ex 2,11-22).
            Porém, convém lembrar que, muito mais que enxergar um Moisés revoltado contra as atitudes de maus tratos dos egípcios, deve-se compreender o verdadeiro sentido de sua figura. Em Ex 2,23-25, explicita com clareza o motivo da aparição da figura de Moisés. Assim vai dizer: “(...) os israelitas, gemendo sob o peso da servidão, gritaram; e no fundo da servidão o seu clamor subiu até Deus. E Deus ouviu seus gemidos; Deus lembrou-se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó. Deus viu os israelitas, e Deus se fez conhecer...”. Isso para nos clarear que, na verdade, Moisés é o escolhido de Deus para ser o porta voz da misericórdia divina; para ser sinal da certeza de que Iahweh escutou o clamor e o gemido de sofrimento de seu povo.
            Vale frisar que a vocação de Moisés para o desígnio de libertar o povo da opressão egípcia se confirmara no momento em que Iahweh, por meio de seu anjo, se manifesta a ele por meio da visão da Sarça Ardente. Moisés apascentava o rebanho de seu sogro Jetro. E ao levá-lo para além do deserto, ao Horeb, a montanha de Deus, ai o anjo de Iahweh se manifesta a ele “numa chama de fogo, do meio da sarça (...) e a sarça não se consumia” (Ex 3,2).
            Daí, o Senhor se dispõe a dialogar com Moisés. E neste sentido Ele se revela e lhe explica a missão que estava por vir e que seria confiada a ele. “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. (...) Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir desta terra pra uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel (...)” (Ex. 3,6-8).
            Entretanto, Moisés expressa uma postura de temeridade e medo frente à missão quando Deus o diz: “Vai, pois, e eu te enviarei a Faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os israelitas” (Ex 3,10). Ele se sente incapaz para cumprir tamanha empreitada. Contudo, Deus o adverte e o assegura: “Eu estarei contigo; e este será o sinal de que eu te enviarei: quando fizeres o povo sair do Egito, vós servireis a Deus nesta montanha” (Ex 3,12).
            Porém, Moisés ainda apresenta dois questionamentos a Deus. O primeiro, quanto a seu nome, caso os israelitas o interroguem sobre o mesmo. Deus diz: “Eu sou aquele que é. (...) Assim dirás os israelitas: EU SOU me enviou até vós. (...) Iahweh, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó me enviou até vós” (Ex 3,14-15). Em seguida, Deus lhe dá instruções para a missão (Cf. Ex 3,16-20).
            O segundo, quanto à deficiência de fala dele. “Disse Moisés a Iahweh: Perdão, meu Senhor, eu não sou um homem de falar, nem de ontem nem anteontem, nem depois que falaste a teu servo; pois tenho a boca pesada, e pesada a língua” (Ex 4,10). Mas, nos versículos seguintes, Ex 4,11-16, Deus o adverte a confiar-se mais nele como aquele que vai conduzi-lo e apontar o que deverá ser feito e dito.
            Desse modo, para dar mais segurança a Moisés, Deus lhe dá um intermediário, isto é, Aarão, o levita, seu irmão. Os dois serão instrumentos de Iahweh no Egito. Por fim, o Senhor diz a Moisés: “Toma, pois, esta vara na mão: é com ela que irás fazer os sinais” (Ex 4,17).

2.2. Moisés diante do faraó e o êxodo do Egito

            Frente à ousadia de retornar ao Egito e, sobretudo, de exigir a libertação do povo, percebe-se que de agora em diante só será possível a realização de tal proeza, porque Deus estará continuamente explicitando sua fiel adesão ao povo oprimido por meio de sinais e prodígios.
            Moisés imerso em dúvidas por não saber se o escutarão, faz a experiência do poder dos sinais de Deus. Uma vez assumida uma aliança com o povo, já desejada e prometida desde a geração de Abraão, Deus o certifica de que todos os recursos possíveis para a libertação do povo serão aplicados. Vale destacar que os sinais divinos, sob o sinal da “Vara” (Ex 4,17) dada a Moisés, serão a prova da veracidade da palavra dele e de que Iahweh não está brincando, que quer a liberdade do seu povo. Pragas e males cairão sobre o Egito caso o desígnio de Iahweh seja atendido (Cf. Ex 4,1-9).
            Levando em conta o que fora de antemão anunciado, como foi à recepção das palavras de Iahweh na pessoa de Moisés e Aarão no Egito? O faraó compreendeu e aceitou de imediato a mensagem? Nota-se que, a princípio não, mas depois de tanto sacrifício, o faraó aceitará.
            Tendo em vista um melhor entendimento deste fato, percebe-se que muitos elementos poderão ser encontrados nesta narrativa do encontro com o faraó e posteriormente o êxodo do Egito que ajudarão a averiguar e legitimar a aliança que Deus fizera com os antepassados e que nesta situação será relembrada e atualizada.
            Então, destinado a executar a ordens divinas, Moisés e Aarão chegam o Egito. De início, se reuniram com todos os anciãos dos israelitas. “Aarão repetiu todas as palavras que Iahweh tinha dito a Moisés. Ele realizou os sinais à vista do povo. O povo creu e ouviu que Iahweh tinha visitado os israelitas e visto sua miséria. Ajoelharam-se e se prostraram” (Ex 4,30-31).
            Após tal evento, Moisés e Aarão foram ao encontro do faraó e o disseram: “Assim falou Iahweh, o Deus de Israel: deixa meu povo partir, para que faça uma festa no deserto” (Ex 5,1). Alerta para o fato de que o povo devia partir em marcha de três dias para o deserto a fim de prestar sacrifícios a Iahweh, para que o Egito não seja estigmatizado e atacado com a peste e com a espada.
            Todavia, o faraó não dera atenção, e sim desconsiderou a mensagem por se tratar de um Deus desconhecido para ele. Consequentemente se enfurece e manda os egípcios dificultarem os recursos de trabalho dos israelitas e a exigir um serviço exagerado, aumentando assim a opressão (Cf. Ex 5,6-14).
            Desconcertados pelas novas medidas faraônicas, o povo de Israel reclama com Moisés. Desse modo, ele se lança em oração (diálogo com Iahweh) em favor do povo: “Então Moisés, voltando-se para Iahweh disse: Senhor, por que maltratas este povo? Por que me enviaste? Pois desde que me apresentei ao Faraó, para lhe falar em teu nome, ele tem maltratado este povo, e nada fizeste para libertar o teu povo!” (Ex 5,22-23).
            Ouvindo as palavras de Moisés, o Senhor Deus lhe assegura: “Agora, verás o que hei de fazer a faraó, pois é pela intervenção de mão poderosa que os fará partir, e por mão poderosa os expulsará do seu país! (...) E ouvi o gemido dos israelitas, os quais os egípcios escravizavam, e me lembrei da minha aliança. (...) Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (Ex 6,1. 5. 7).
            Como Iahweh percebera que o coração do faraó está obstinado e recusa a saída do povo, Ele ordena a Moisés que apodere-se de sua vara e vá de encontro novamente com o faraó, a fim de por ela  manifestar os sinais e lançar pragas[6] contra o Egito por causa da “cabeçudice” dele. Assim Moisés fez. E todas as vezes que lançava alguma praga ou fazia algum sinal, Moisés explicitava, na verdade, a ira de Iahweh.
            Embora todos os sinais e pragas lançados sobre o Egito parecessem que em nada afetara o faraó, Iahweh não deixa de anunciar a sua última e avassaladora praga: a morte dos primogênitos. Moisés orienta o povo dizendo: “Assim diz Iahweh: à meia noite passarei pelo Egito. E todo primogênito morrerá na terra do Egito, desde primogênito do faraó (...) até o primogênito da escrava que está à Mó (...)” (Ex 11,4-5).
            Todavia, uma vez cumprida essa promessa, os israelitas não sofreriam também, visto que se encontram situados no Egito? Conforme se verá, em nada a praga exterminadora afetará o povo de Israel, pois ao celebrarem a páscoa (Cf. Ex 12,1-28), festa familiar da primavera, Iahweh instruíra o povo de Israel de como se manterem intactos, ou seja, ao imolarem um animal (carneiro) na páscoa, dever-se-ia marcar a travessa da porta de suas casas com o sangue como sinal para que a praga não lhe inflija mal algum (Cf. Ex 12, 12-14).
            Realizada, então, esta última praga, enfim o faraó ao ver o tamanho clamor dos egípcios devido a tantas mortes, manda chamar, ainda à noite, Moisés e Aarão e lhes ordena: “Levantai-vos e saí do meio do meu povo, vós e os israelitas; ide servi a Iahweh, como tendes dito. Levantai também vossos rebanhos e vosso gado, como pedistes, parti e abençoai a mim também” (Ex 12,31-32).
            Conforme relata Ex 12,37-42, por muitos anos o povo de Israel ficou no Egito, cerca de quatrocentos e trinta anos, e havia cerca de seiscentos mil homens a pé, sem contar suas famílias quando saíram em retirada do Egito. Iahweh com seu braço forte e poderoso os arrancou do Egito.
            Durante a travessia (êxodo) do Egito, dois acontecimentos se sucederão e será para Iahweh um sinal de glorificação. O primeiro é o fato do faraó ter se arrependido e reunir o seu exército em caçada contra os israelitas (Cf. Ex 14,5-13). Já o segundo se refere ao milagre do Mar vermelho ou dos Juncos, ou seja, em que Moisés, ao ver o povo com medo e pressionados por não haver mais saída para escaparem dos egípcios que já estavam se aproximando, estende sua vara, faz o mar se abrir, se dividir, e o povo passar de pé enxuto e se esquivar das mãos dos seus opressores (Cf. Ex 14,16. 21-22).
            Interessante que, ao se cumprir estes eventos, em tudo o nome de Iahweh foi glorificado, visto que os egípcios não conseguiram apanhar os israelitas, pois estes, ao atravessarem o mar, ele se fecha, aniquilando, assim, o exército faraônico. “Naquele dia, Iahweh salvou Israel das mãos dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos à beira-mar. Israel viu a proeza realizada por Iahweh contra os egípcios. E o povo temeu a Iahweh, e creram em Iahweh e em Moisés, seu servo” (Ex 14,30-31).

Conclusão

            Encerrada essa empreitada, a conclusão central que se pode tirar deste estudo é que Deus é fiel à sua aliança desde sempre. Uma vez feita, ele não volta atrás, mesmo se os homens derem indícios de infidelidade ou coisa parecida. Isso se justifica no fato de que a aliança de fidelidade de Deus com os descendentes de Jacó, também chamados de israelitas ou hebreus, é reflexo da aliança feita com Abraão, geração bem anterior a Jacó.
A autenticidade do pleno cumprimento da aliança da parte de Deus pode ser percebida e refletida na análise feita da experiência do povo de Israel no Egito. Desde a sua instalação até a saída (o êxodo), a mão de Deus sempre esteve ao lado dos israelitas. Tanto nos momentos de satisfação quanto nos momentos desafiadores, como a experiência de escravidão em terras egípcias.
Por fim, vale ressaltar que a aliança tomará novo molde com o pacto definitivo feito na pessoa de Moisés em que Deus garante que este mesmo povo receberá a terra prometida. Mas para isso o povo deveria seguir fielmente as normas da aliança, as quais serão dadas a Moisés na montanha (Cf. Ex 23,20-31; 24,1-18). Contudo, não foi o objetivo deste trabalho abranger esta questão e sim realçar mais as veredas da experiência no Egito.




Referências bibliográficas

DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos: dos primórdios até a formação do Estado. Tradução de Cláudio Molz e Hans Trein. São Leopoldo: Sinodal, 1997.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
GALBIATI, Mons. Enrico. A História da salvação no Antigo Testamento. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1978.
KONINGS, Johan. A Bíblia, sua história e leitura: uma introdução. Petrópolis: Vozes, 1992.


[1] Cf. DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos:dos primórdios até a formação do Estado. p. 98.
[2] GALBIATI, Mons. Enrico. A História da salvação no Antigo Testamento. p. 111. Convém conferir também o texto bíblico de Gn 45,16-20.
[3] Cf. Gn 46,8-26, a qual detalha os nomes dos descendentes que vieram com Jacó para o Egito.
[4] Estudiosos apontaram o nome deste novo faraó como Ramsés II (1290-1224 a.C.). Mas, vale ressalta, conforme se seguirá, que este faraó fora um grande opressor do povo israelita, mas o sucederá nas opressões também o faraó Mernefta (1224-1204 a.C.). Cf. GALBIATI, Mons. Enrico. A História da salvação no Antigo Testamento. p. 115.
[5] Cf. KONINGS, Johan. A Bíblia, sua história e leitura: uma introdução. p. 120.
[6] Cf. Ex 7-10. Nestes capítulos há a narração dos vários sinais e pragas infligidos sobre o Egito (Exemplos: A vara se transformando em serpente, a água em sangue, invasão dos garfanhotos, rãs, etc.)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Psicologia e a constatação dos transtornos

Os transtornos de personalidade e suas características
 José Márcio Carlos

            É evidente que a principal perspectiva da psicologia está na observação e investigação das atividades psíquicas do ser humano. No entanto, já as atividades físicas não são objetos avaliativos dela, visto que possuem ciências próprias para esta outra dimensão do homem.
            Todavia, no que diz respeito às atividades psíquicas, a psicologia possui certos parâmetros de comportamento que as definem como normais, ou seja, há critérios comuns que são seguidos por aqueles e aquelas que possuem a chamada normalidade. Dessa forma, a personalidade é vista como saudável e regulada.
            Entretanto, há casos que fogem aos critérios da normalidade e estes são chamados de transtornos da personalidade. Isso é visível porque há uma mudança no comportamento da pessoa, quer dizer, um distanciamento das perspectivas normais. Obviamente, essa ocorrência não é um fato isolado, mas contínuo. O transtorno é resultante de atitudes persistentes, as quais não tem um determinado controle. Alguns transtornos de personalidade traduzem bem essa persistência: o transtorno histriônico, o esquiva (evitativo), o dependente e o obsessivo-compulsivo.
            O transtorno histriônico possui um padrão invasivo de emocionalidade excessiva e comportamento de busca de atenção. Suas características são: sensação de desconforto quando não é o centro das atenções; superficialidade na expressão das emoções e instabilidade, ou seja, muda as emoções com freqüência; discurso excessivamente impressionista e carente de detalhes; alta dramatização, teatralidade e expressão emocional exagerada; facilmente influenciado pelos outros ou por circunstâncias; e super valorização dos relacionamentos, quer dizer, mal conhece alguém e já o trata como amigo e etc.
            Já o transtorno esquiva (evitativo) é percebido pelo padrão de inibição, sentimento de inadequação e hipersensibilidade. A pessoa evita atividade que exija relação pessoal por medo; despreza promoções, porque as atividades podem despertar críticas; evita novas amizades; tem dificuldades para descrever e expressar-se; reluta-se a assumir riscos ou a envolver em atividades novas; magoa-se com críticas e desaprovações; é tímida, quieta, por medo; espera ser considerada errada; reage a zombarias e desprezos; apesar do anseio pela vida, a teme; demonstra inibições em novas situações interpessoais e etc.
            O transtorno dependente é aquele em que a pessoa tem a necessidade invasiva e excessiva de ser cuidada. Esse fato evidencia-se devido à vida da pessoa “girar” em torno do outro, o qual escolheu como seu guardião. Isso transparece pelas características seguintes: a pessoa tem um comportamento submisso para obter atenção e cuidado; tem medo da separação percebe-se incapaz de agir adequadamente sem auxílio de outra pessoa; tem grande dificuldade de tomar decisões corriqueiras sem conselho de outro e de expressar discordância de outras pessoas; sente desconforto ou desamparo quando está sozinha, pelo medo exagerado de ser incapaz de cuidar de si mesmo e etc.
            Por fim, o transtorno obsessivo-compulsivo é detectado na pessoa que contém excessivamente a preocupação com organização, perfeccionismo e controle mental e interpessoal. Isso é perceptível na pessoa que apresenta as seguintes manifestações: tenta manter um sentimento de controle através de uma atenção extenuante a regras; ser intensamente cuidadosa e propensa à repetição, dando extraordinária atenção a detalhes e verificando repetidamente as coisas em busca de detectar erros; o seu tempo é mal distribuído, sendo as tarefas mais importantes deixadas para última hora; é avessa a delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas, pois tem medo de não sair perfeito, etc.
            Neste intuito, nota-se que o padrão persistente encontrado nas características destes transtornos citados provoca sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em áreas importantes da vida do indivíduo.
            Problemas ligados à vida pública, social, profissional e afetiva são presentes e estão em comum nos transtornos. Isso se apresenta muito prejudicial, visto que são perspectivas importantes e partes essenciais da vida humana. Afetando-as, afeta-se também o próprio processo de desenvolvimento da pessoa, o que acaba comprometendo os projetos futuros. Neste sentido, muitos outros prejuízos poderiam ser enumerados para constatar os vários danos que os transtornos podem trazer, entretanto não há mais a necessidade d constatação de outros tantos prejuízos.
            Enfim, os desafios de quem possui alguns destes transtornos são muitos, visto que, de fato, a própria vida se desenvolverá dentro das determinações do transtorno específico. Dessa forma, percebe-se a necessidade de encontrar recursos que permitam à pessoa procurar auxílio profissional, a fim de que ela possa se estabilizar e se reestruturar em bem da própria qualidade de vida.

Cosmologia e a vida!

A luz como alicerce da vida e a importância das estrelas
 José Márcio Carlos

            A ciência é a busca do entendimento de nossa relação com o resto do universo. Afirmar que todo ser humano é ser vivo é constatar o fato mais simples e básico sobre nós mesmos. Contudo, o veículo mais óbvio e fundamental de nossa conexão com o universo é a luz, pois esta está situada no universo em que todos os seres no geral vivem.
            A luz é a fonte da vida. Sem a luz que vem do sol, não haveria vida sobre a terra. Ela não é apenas o nosso meio de contato com o mundo; em sentido real, a luz é a base de nossa existência. É a luz do sol que dá a energia e o ímpeto para que a matéria se auto-organize e se transforme em vida.
            O conhecimento de nós mesmos depende da compreensão de por que o universo é organizado de modo a conter seres vivos. A primeira coisa que se precisa saber é por que vivemos em um universo cheio de luz. O problema do nosso relacionamento com o resto do universo depende de uma questão científica: por que o universo é cheio de estrelas?
            É um lugar-comum dizer que no século XX a ciência tomou o lugar da religião como autoridade cosmológica predominante. Com isso, em muitas das culturas do planeta, foram os físicos os artífices e guardiões oficiais da história do cosmos.
            Para os físicos, a física é vista como aquela que deve fornecer um modo de compreender o que é a vida e por que estamos no mundo. Ela é a ciência de tudo, cuja tarefa é revelar aqueles fatos e leis que tem aplicação universal. A física deve fundamentar e explicar a biologia, porque os seres vivos, como todas as coisas do universo, são feitos de átomos que obedecem às mesmas leis que todos os outros átomos do mundo.
            Entretanto, uma abordagem da física que não torna a existência da vida compreensível deve dar lugar à outra que o faça. Por exemplo: a física de newtoniana foi vista como falsa. Sendo assim, posteriores físicos tentaram superá-lo, sobretudo na questão da existência da vida. No entanto, foi com a física do século XX que as pessoas foram compreender de que modo os seres vivos são constituídos. E percebeu-se que é com os mesmos átomos ordinários que compõem as pedras e as estrelas.
            A primeira coisa que é necessária para a vida é uma variedade de átomos diferentes que possam se combinar, a fim de formarem um número grande de moléculas de tamanhos, formas e propriedades químicas variadas. Todos os seres vivos da terra são feitos de compostos de carbono constituídos a partir de quantidades copiosas de hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, assim como quantidades ínfimas de outros átomos. Isso, então, justifica a vida, pois seria impossível a vida se não houvesse uma variedade suficiente de átomos. Um universo que contivesse apenas um tipo de átomo seria quase certamente morto.
            O problema da física de Newton é que ela não admite a existência de muitos tipos diferentes de átomos. Um átomo newtoniano seria algo como um sistema solar, só que é mantido por uma atração elétrica entre núcleos e elétrons e não pela gravidade.
            Contudo, há um problema, porque quando os elétrons se movem em círculos, eles irradiam ondas de luz que transportam energia para longe do átomo. O resultado é que os elétrons perderiam energia e cairiam em espiral parta dentro do núcleo. Sendo assim, se o mundo, de repente, ficasse newtoniano, levaria apenas uma fração de segundo para que a maioria dos elétrons caísse dentro dos núcleos. Esta foi, na verdade, a motivação direta para a introdução da descrição quântica do átomo, a qual é uma teoria que explica a estabilidade dos átomos.
            Neste sentido, deve-se perguntar qual é a característica que um universo, necessariamente, precisa ter para que grande quantidade de carbono, oxigênio e outros ingredientes da vida sejam produzidos abundantemente. Esta questão tem uma resposta simples: o universo deve conter estrelas, ou seja, todos os elementos, com exceção dos mais leves, foram forjados nas estrelas. Da mesma forma, como as plantas produzem o oxigênio que respiramos, são as estrelas que produzem todos os elementos químicos de que todos os seres vivos, humanos, animais e vegetais, são feitos.
            Uma vez tendo os ingredientes, quais são as condições que tornam o universo favorável? Que a vida surgiu de um mundo mais simples parece ser um milagre definitivo. Isso é algo que temos que compreender se quisermos compreender nosso lugar no universo. Porém, em suma, a resposta científica e básica é a existência de estrelas, as quais são a chave para o problema do porquê do cosmos ser favorável a vida.

sábado, 12 de março de 2011

Filosofia Kantiana!

Juízo sintético a priori: caminho para o progresso do conhecimento
 José Márcio Carlos

Percebe-se que um dos grandes pensadores da filosofia é Immanuel Kant. Através de sua obra intitulada “Crítica da razão pura”, ele faz uma abordagem de um dos grandes temas dentro da investigação filosófica: o conhecimento. Ao levantar uma série de questões, que algumas serão abordadas ao longo deste trabalho, Kant tem como objetivo responder a esta questão: como fazer o conhecimento progredir?

A necessidade dele de responder a esta questão está no fato de que na sua época havia duas correntes predominantes, as quais discursavam sobre a possibilidade de alcançar o conhecimento, porém de formas diferentes. De um lado, havia os  defensores da metafísica e de outro os defensores da ciência empírica. Daí, criam-se outras questões: qual destas é a forma mais correta e precisa para se chegar ao conhecimento? Há algum elo entre estas duas formas de conhecimento?

Dessa forma, nota-se que Kant foi muito eficaz na busca da resolução desta problemática. Ele, para não se precipitar ou se enganar, faz uma investigação de uma por uma, por meio do método desenvolvido por ele mesmo: o criticismo.

Levando em consideração a tradição, Kant, então, procura primeiramente saber se a metafísica poderia ser vista como ciência. Contudo, antes de prosseguir na investigação do conhecimento metafísico, deve-se saber como se dá o conhecimento científico, visto que as críticas dos não-adeptos à metafísica estavam no fato da impossibilidade dela de se tornar um conhecimento científico, assim como a inverificabilidade de seus objetos.
           
Segundo o pensamento científico, o conhecimento só seria possível dentro das categorias de tempo e espaço. Dessa forma, só se poderia apreender os “juízos sintéticos particulares a posteriori”, ou seja, aqueles que são formados após a experiência sensível.
           
A experiência é um elemento significativo e fundamental para a ciência, visto que esta só apreende o conhecimento de algum objeto determinado via experimentação e verificação empíricas deste. É por isso, que tempo e espaço são categorias importantes e necessárias, pois só estão situados nestas categorias os objetos que são totalmente empíricos.
           
Neste sentido, o que a ciência quer também enfatizar é a impossibilidade do conhecimento fora do campo fenomenal. Para ela, o sujeito cognoscente só é capaz de apreender o fenômeno das coisas, ou seja, o modo como o objeto cognoscível se apresenta a ele. O fato do sujeito estar situado na natureza (mundo físico), isso o faz situado também no campo cognocitível. Da mesma forma, o fato dele se encontrar situado num contexto temporal e espacial, estes o fazem um ser configurado ao tempo e ao espaço.
           
Retomando, então, a questão da metafísica, esta era vista pelos metafísicos como a base para se chegar ao conhecimento, assim como o ideal e sustento deste. Os juízos “alcançados’’ neste processo são inatos e não apreendidos, são os “universais a priori”, isto é, aqueles que não necessitam da experiência sensível.
           
Os adeptos da metafísica acreditavam que o conhecimento mesmo, em si, estava fora da realidade sensível, pois o sensível só oferece o fenômeno e nunca a coisa em si. E a garantia do conhecimento verdadeiro estaria fora e não no objeto fenomênico.
           
Outro aspecto que forneceria crédito de confiança à metafísica é o fato dela ser uma disposição natural, ou seja, o sujeito cognoscente tem a necessidade de “ir além”, de superar o que é dado no tempo e espaço. O homem é um ser que não se contenta com o que é alcançado, ele quer sempre buscar conhecer o que ultrapassa o fenômeno.
           
Kant encontra, então, em uma situação difícil, porque a ciência e a metafísica são posições extremas e sem nenhum elo de ligação. É evidente que os próprios objetos de ambos são diferentes. Talvez, o ponto de atrito esteja no fato de um ser verificável na experiência e “palpável” e o outro, não.
           
Pelo fato da metafísica ser levada em consideração e também como alvo da investigação estabelecida por Kant, percebe-se que ela era mais criticada do que a ciência. Isso porque se houver um pedido de provas sobre a validade do conhecimento metafísico, este não pode ser oferecido à luz da compreensão propriamente humana, pois a transcende. No entanto, o conhecimento científico é mais acessível e pode ser alcançado a luz do entendimento humano.
           
Uma vez que seguindo este ponto de vista, nota-se que isso pode gerar conflitos e novas questões. Por exemplo: É possível conhecer os objetos metafísicos (Deus, alma e mundo)? Será que eles realmente existem? Todavia, se o ponto de partida do conhecimento partir da perspectiva temporal e espacial, então o conhecimento metafísico e a existência de seus objetos devem ser desconsiderados.
           
Porém, o âmbito científico não fica de fora deste tipo de crítica, visto que poderia surgir questões como: será que o conhecimento está reduzido somente à reflexão espacial e temporal, assim como aos objetos sensíveis? Entretanto, por mais óbvia que pareça, não seria correto esta redução empírica, uma vez que nem tudo que se denomina conhecimento tem que necessariamente passar pela experiência sensível.
           
Sendo assim, nota-se que, o conhecimento jamais irá progredir, porque, na verdade, o que haverá é somente posições de busca do conhecimento querendo anular um ao outro. Mas, felizmente Kant, ao compreender estas questões e desejar o avanço e progressão do conhecimento, resolve encontrar um meio que o ajudasse a encontrar um saída, a fim de superar este entrave. Daí vem a idéia dele de montar um novo caminho para o conhecimento, o qual os aspectos metafísicos e científicos fossem levados em consideração, mas sem extremismo. Nesse sentido, ele cria aquilo que é chamado de “juízo sintético a priori”.
           
Este juízo, além de ser a saída extraordinária de Kant para o conhecimento, é, de fato, uma perspectiva que abarca dois aspectos fundamentais, o qual o sustenta como via para um conhecimento verdadeiro, necessário e universal.
           
Kant compreende que um conhecimento autêntico deve ser necessário, porque este precisa ser algo com toda propriedade e nunca deixar de ser, isto é, jamais ser invariável ou mudar sobre qualquer hipótese. Também necessita ser universal, pois precisa ser visto como algo válido em todo e qualquer tempo e espaço, ou seja, sua autenticidade deve ser vista no todo e não em partes.
           
Enfim, percebe-se que, para Kant, só será amadurecido e irá progredir se este for modelado pelo “juízo sintético a priori”. Pelas características apresentadas deste, fica evidente que a superação dos dois extremismos, os quais impediam o desenvolvimento do conhecimento, é a grande novidade que Kant apresentou.

O fato de ter encontrado um meio termo sem ter caído num relativismo ou num outro reducionismo do conhecimento, tornou Kant e seu sistema uma grande referência para a busca sincera e profunda da verdade, o qual se pode perceber reflexos num conhecimento verdadeiro.

Filosofia Cartesiana!

O cogito cartesiano: caminho para um pleno subjetivismo

José Márcio Carlos 

Ao ler as “Meditações” de René Descartes, mais especificamente a primeira meditação, percebe-se que, a princípio, há um interesse da parte dele em fazer uma investigação séria, coerente e eficaz em relação à questão do problema do conhecimento, isto é, o homem pode ou não conhecer, de fato, todas as coisas?

Para tentar responder tal questão, Descartes coloca tudo em dúvida, com a finalidade de encontrar clareza e distinção. Todas as coisas materiais, Deus e a razão são os pontos amplos, no qual a dúvida perpassa.
Mas, daí vem o questionamento: por que e para que colocar tudo em dúvida? Será só para encontrar clareza e distinção? Descartes, ao longo das meditações, vai demonstrar que o seu objetivo é encontrar o verdadeiro fundamento das coisas em geral.

Dentro das meditações, nota–se que o aspecto mais relevante é a descoberta da res cogitans, isto é, Descartes percebe que ele poderia duvidar de tudo, menos de que ele é uma coisa pensante. Tal evidência abre, então, a era do subjetivismo, ou seja, o sujeito (Cogito) torna-se o centro de toda e qualquer ação humana.

Dentro desta perspectiva, pode-se evidenciar um aspecto importante que afirma a plena subjetividade fundada por Descartes: o cogito como fundamento da existência de Deus e das coisas materiais. 
Descartes afirmava que a noção de um ser perfeito não poderia brotar espontaneamente de um ser imperfeito, ou seja, o autor dessa idéia não pode ser limitado e finito, nem mesmo qualquer outro ser da mesma forma limitado. Se essa idéia de perfeição não é do sujeito, só pode vir de um ser que é mais perfeito. Dessa forma, Descartes chega à conclusão de que tal idéia perfeita, a qual também implica a idéia de infinito, na verdade, está no sujeito por inatismo, isto é, foi colocado por Deus.

Aparentemente, parece que o sujeito se apresenta como totalmente inferior, devido a sua limitação e imperfeição. Entretanto, ao refletir mais a fundo, nota-se que Descartes está, na verdade, reafirmando a superioridade do cogito, pois se há a idéia da existência de Deus, da sua perfeição e infinitude, isso ocorre porque está no pensamento (cogito).

Já que o cogito é algo claro e distinto, o que, então, o torna verdadeiro, compreende-se que se a idéia da existência de Deus e suas características são verdadeiras, é porque o cogito é quem evidencia e não que elas sejam verdadeiras em si mesmas. De que valeria saber que Deus existe, se isto não fosse afirmado pelo cogito? Pois, sendo o cogito o fundamento da existência de Deus, fica confirmado também a clareza e distinção dessa existência, visto que só o cogito é quem vê as coisas com clareza e distinção.

Com a existência de Deus, Descartes chega também a prova da existência do mundo, da “res extensa”, pois Deus é a fonte criadora e o “fundamento” de toda a verdade. E além do mais, o que deixa claro e evidente que as coisas materiais existem é o fato de Deus não ser enganador. Engano é sinal de imperfeição. Sendo assim, conclui-se que, sendo Deus um ser perfeito, isto é, não enganador, fica evidente que as coisas materiais apreendidas pelos sentidos não podem ser, senão, verdadeiras e existentes.

Ao refletir esta questão apresentada por Descartes, nota-se o quanto o sujeito (cogito) busca se demonstrar superior e fundamento de todas as coisas. Primeiro, depois de ter colocado as coisas em dúvida, assim como os sentidos, visualizar a clareza e a distinção nas coisas materiais se tornou difícil. Contudo, ele, logo, buscou encontrar a resposta para esta questão que, por sua vez, não deixou de ter um toque de subjetivismo.

O fato de ser Deus o argumento principal para a veracidade da “res extensa” demonstra também que o cogito é, na verdade, o fundamento desta. Sem a existência de Deus evidenciada pelo cogito, não haveria também a “res extensa”. Sendo assim, é impossível não admitir que o cogito, o sujeito pensante, é o intercessor da existência das coisas materiais.

Tendo em vista o subjetivismo cartesiano, pensar tal subjetividade torna-se o grande desafio da contemporaneidade, pois ela traz alguns sérios problemas que podem comprometer importantes estruturas da sociedade. Alguns deles podem ser destacados da seguinte maneira: a perda do paradigma nos seus moldes universais implicando, assim, num relativismo e num crescente individualismo.  

No que diz respeito à questão do paradigma, antes da revolução gnosiológica, o fundamento (ou paradigma) para o conhecimento das coisas estava externo (no sentido de estar acima do sujeito) ao sujeito (na idade média até o início da modernidade, Deus é quem era o fundamento ou paradigma). De certa forma, pensar nesta perspectiva era o mais correto, visto que, ao pensar um paradigma, deve-se pensar uma fonte sólida, imutável, não contraditória, que sirva de referência e sustentação para todo o resto do mundo nas suas várias facetas, principalmente no que concerne à questão do conhecimento.

Contudo, após a revolução gnosiológica, o objeto se tornou secundário e o sujeito cognoscente o mais importante dentro do processo do conhecimento. Então, dentro desta perspectiva, nota-se que seria desnecessário pensar algo que estivesse fora do próprio sujeito e que servisse de sustentação para um processo de apreensão de um determinado objeto, pois ficaria claro que o sujeito por si só já bastaria.

Entretanto, com a falta de paradigma, o sujeito passa a assumir as funções paradigmáticas, ou seja, já que não há mais a necessidade de algo externo ao sujeito, que evidencie, por exemplo, a verdade ou a falsidade de seus conhecimentos, claramente fica somente a cargo do próprio sujeito ser fundamento ou paradigma para si mesmo, assim como para as coisas.

No entanto, conforme já refletia Descartes: o sujeito é finito e imperfeito. Sendo assim, ele está sujeito a erros. Daí se intui um outro aspecto que o subjetivismo cartesiano pode implicar: o relativismo. Ou seja, a verdade ou falsidade das coisas fica condicionada não mais a condições sólidas e seguras (idéia do paradigma), mas à variabilidade do sujeito.

O relativismo é uma conclusão negativa que se pode abstrair da subjetividade, porque ele cria uma tendência em cada sujeito à criação de sua própria verdade, visto que o sujeito é percebido como fundamento, e não a se se basear em uma única verdade.

Protágoras, filósofo pré-socrático, com a sua frase famosa: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são, e das que não são enquanto não são”, vai dizer que as coisas são concebidas a modo humano. Mas, quando mal interpretada, esta afirmação pode ser vista como uma aprovação do subjetivismo e, consequentemente, do relativismo. E é dessa mesma forma que o cogito cartesiano tem levado as pessoas da contemporaneidade a pensarem, não no seu sentido original.

Por fim, assim como o relativismo, o individualismo contemporâneo também tem sua fonte no discurso cartesiano. Sendo, então, o sujeito (pensante) auto-suficiente, a tendência dele é fechar-se em si mesmo e afastar-se dos outros.

Essas características são reflexos do que representam, realmente, as influências do cogito na sociedade atual. Pensa-se tão cartesianamente e é por isso que as pessoas se demonstram individualistas. Já que elas por si mesmas se bastam, para que se importar com os outros? Eles não podem oferecer nada de novo. E, dessa forma, fica cada vez mais inacessível a relação com as pessoas, principalmente aquelas que se deixam conduzir pelo pensamento cartesiano.

Enfim, percebe-se que o cogito, de fato, transmite uma grande impressão de superioridade sobre tudo e sobre todos. Daí a confirmação do título do texto: “O cogito cartesiano: caminho para um pleno subjetivismo”. Realmente, o que se comprova e que por um bom tempo ainda se comprovará, até que se consiga superar o cogito cartesiano, é que o sujeito é o centro de toda a reflexão.