sábado, 12 de março de 2011

Filosofia Kantiana!

Juízo sintético a priori: caminho para o progresso do conhecimento
 José Márcio Carlos

Percebe-se que um dos grandes pensadores da filosofia é Immanuel Kant. Através de sua obra intitulada “Crítica da razão pura”, ele faz uma abordagem de um dos grandes temas dentro da investigação filosófica: o conhecimento. Ao levantar uma série de questões, que algumas serão abordadas ao longo deste trabalho, Kant tem como objetivo responder a esta questão: como fazer o conhecimento progredir?

A necessidade dele de responder a esta questão está no fato de que na sua época havia duas correntes predominantes, as quais discursavam sobre a possibilidade de alcançar o conhecimento, porém de formas diferentes. De um lado, havia os  defensores da metafísica e de outro os defensores da ciência empírica. Daí, criam-se outras questões: qual destas é a forma mais correta e precisa para se chegar ao conhecimento? Há algum elo entre estas duas formas de conhecimento?

Dessa forma, nota-se que Kant foi muito eficaz na busca da resolução desta problemática. Ele, para não se precipitar ou se enganar, faz uma investigação de uma por uma, por meio do método desenvolvido por ele mesmo: o criticismo.

Levando em consideração a tradição, Kant, então, procura primeiramente saber se a metafísica poderia ser vista como ciência. Contudo, antes de prosseguir na investigação do conhecimento metafísico, deve-se saber como se dá o conhecimento científico, visto que as críticas dos não-adeptos à metafísica estavam no fato da impossibilidade dela de se tornar um conhecimento científico, assim como a inverificabilidade de seus objetos.
           
Segundo o pensamento científico, o conhecimento só seria possível dentro das categorias de tempo e espaço. Dessa forma, só se poderia apreender os “juízos sintéticos particulares a posteriori”, ou seja, aqueles que são formados após a experiência sensível.
           
A experiência é um elemento significativo e fundamental para a ciência, visto que esta só apreende o conhecimento de algum objeto determinado via experimentação e verificação empíricas deste. É por isso, que tempo e espaço são categorias importantes e necessárias, pois só estão situados nestas categorias os objetos que são totalmente empíricos.
           
Neste sentido, o que a ciência quer também enfatizar é a impossibilidade do conhecimento fora do campo fenomenal. Para ela, o sujeito cognoscente só é capaz de apreender o fenômeno das coisas, ou seja, o modo como o objeto cognoscível se apresenta a ele. O fato do sujeito estar situado na natureza (mundo físico), isso o faz situado também no campo cognocitível. Da mesma forma, o fato dele se encontrar situado num contexto temporal e espacial, estes o fazem um ser configurado ao tempo e ao espaço.
           
Retomando, então, a questão da metafísica, esta era vista pelos metafísicos como a base para se chegar ao conhecimento, assim como o ideal e sustento deste. Os juízos “alcançados’’ neste processo são inatos e não apreendidos, são os “universais a priori”, isto é, aqueles que não necessitam da experiência sensível.
           
Os adeptos da metafísica acreditavam que o conhecimento mesmo, em si, estava fora da realidade sensível, pois o sensível só oferece o fenômeno e nunca a coisa em si. E a garantia do conhecimento verdadeiro estaria fora e não no objeto fenomênico.
           
Outro aspecto que forneceria crédito de confiança à metafísica é o fato dela ser uma disposição natural, ou seja, o sujeito cognoscente tem a necessidade de “ir além”, de superar o que é dado no tempo e espaço. O homem é um ser que não se contenta com o que é alcançado, ele quer sempre buscar conhecer o que ultrapassa o fenômeno.
           
Kant encontra, então, em uma situação difícil, porque a ciência e a metafísica são posições extremas e sem nenhum elo de ligação. É evidente que os próprios objetos de ambos são diferentes. Talvez, o ponto de atrito esteja no fato de um ser verificável na experiência e “palpável” e o outro, não.
           
Pelo fato da metafísica ser levada em consideração e também como alvo da investigação estabelecida por Kant, percebe-se que ela era mais criticada do que a ciência. Isso porque se houver um pedido de provas sobre a validade do conhecimento metafísico, este não pode ser oferecido à luz da compreensão propriamente humana, pois a transcende. No entanto, o conhecimento científico é mais acessível e pode ser alcançado a luz do entendimento humano.
           
Uma vez que seguindo este ponto de vista, nota-se que isso pode gerar conflitos e novas questões. Por exemplo: É possível conhecer os objetos metafísicos (Deus, alma e mundo)? Será que eles realmente existem? Todavia, se o ponto de partida do conhecimento partir da perspectiva temporal e espacial, então o conhecimento metafísico e a existência de seus objetos devem ser desconsiderados.
           
Porém, o âmbito científico não fica de fora deste tipo de crítica, visto que poderia surgir questões como: será que o conhecimento está reduzido somente à reflexão espacial e temporal, assim como aos objetos sensíveis? Entretanto, por mais óbvia que pareça, não seria correto esta redução empírica, uma vez que nem tudo que se denomina conhecimento tem que necessariamente passar pela experiência sensível.
           
Sendo assim, nota-se que, o conhecimento jamais irá progredir, porque, na verdade, o que haverá é somente posições de busca do conhecimento querendo anular um ao outro. Mas, felizmente Kant, ao compreender estas questões e desejar o avanço e progressão do conhecimento, resolve encontrar um meio que o ajudasse a encontrar um saída, a fim de superar este entrave. Daí vem a idéia dele de montar um novo caminho para o conhecimento, o qual os aspectos metafísicos e científicos fossem levados em consideração, mas sem extremismo. Nesse sentido, ele cria aquilo que é chamado de “juízo sintético a priori”.
           
Este juízo, além de ser a saída extraordinária de Kant para o conhecimento, é, de fato, uma perspectiva que abarca dois aspectos fundamentais, o qual o sustenta como via para um conhecimento verdadeiro, necessário e universal.
           
Kant compreende que um conhecimento autêntico deve ser necessário, porque este precisa ser algo com toda propriedade e nunca deixar de ser, isto é, jamais ser invariável ou mudar sobre qualquer hipótese. Também necessita ser universal, pois precisa ser visto como algo válido em todo e qualquer tempo e espaço, ou seja, sua autenticidade deve ser vista no todo e não em partes.
           
Enfim, percebe-se que, para Kant, só será amadurecido e irá progredir se este for modelado pelo “juízo sintético a priori”. Pelas características apresentadas deste, fica evidente que a superação dos dois extremismos, os quais impediam o desenvolvimento do conhecimento, é a grande novidade que Kant apresentou.

O fato de ter encontrado um meio termo sem ter caído num relativismo ou num outro reducionismo do conhecimento, tornou Kant e seu sistema uma grande referência para a busca sincera e profunda da verdade, o qual se pode perceber reflexos num conhecimento verdadeiro.

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