terça-feira, 15 de março de 2011

Teologia Bíblica!

O ÊXODO DO EGITO: EXPERIÊNCIA E SINAL DA MANIFESTAÇÃO DA ALIANÇA DIVINA COM O POVO

 José Márcio Carlos

Introdução
           
Como proposta de meditação para este trabalho, foi escolhido o tema do Êxodo do Egito, no qual se pode verificar os sinais da manifestação da aliança que Deus quis fazer com o seu povo. “Deus disse: Façamos o homem à imagem, como nossa semelhança (...)” (Gn 1,26). Conseqüentemente a esta certeza, pode-se notar, ao longo da história, o quanto Deus sempre esteve ao lado do homem, seja nas situações desafiadoras ou não.
Deus sempre manifestou sinais de desejo de caminhar ao lado da sua mais nobre e singular criatura, o gênero humano. Neste sentido, em que circunstância pode-se averiguar com mais clareza os sinais da presença de Deus? Sem dúvida, em todos os momentos do desenrolar da vida humana, mas, sobretudo, nos momentos mais conturbados em que a fragilidade humana se encontra mais em evidência.
Neste sentido, o objetivo desta pesquisa é apontar, em particular, um evento fundamental da história do povo de Israel que atesta a veracidade do relacionamento do ser humano com Deus: a situação deplorável que os descendentes de Jacó tiveram de enfrentar no Egito, isto é, a escravidão. Este evento, ao mesmo tempo em que fora uma experiência catastrófica, também servira de sinal para que os mesmos (também chamados de israelitas ou hebreus) reconhecessem a presença e a adesão divina às suas vidas, resultado da aliança feita ainda à geração de Abraão e estendida a sua posteridade. Por isso, compreende-se que é um tema valioso e que deve ser aprofundado devido ao caráter constatativo do relacionamento de duas realidades, ao mesmo tempo, diferentes, contudo tão próxima: Deus e o homem.

1. Os descendentes de Jacó e o Egito

1.1.    A experiência do povo no Egito: chegada e instalação

Antes de desenvolver a questão do êxodo no Egito, faz-se necessário levar em conta que para se sair do Egito é preciso primeiro ter imigrado para lá. Disso se segue: numa época que não mais se pode determinar com precisão, e muito antes da tomada da terra palestinense, pessoas que pertencem aos precursores e antepassados de Israel chegaram ao Egito. Esse acontecimento deixou rastros na tradição veterotestamentária, tendo como exemplo a citação de Gn 12,10-20 e naturalmente na história de José (Gn 37,1-36)[1].
            Levando em consideração a tradição bíblica que narra a figura de José, percebe-se que esta merece uma atenção especial. Biblicamente, o ponto de partida para a imigração dos descendentes de Jacó se dá com José. Como é narrado em Gênesis 37, seguintes, José era filho predileto de Jacó, pois ele era um filho de sua velhice (Gn 37,3).  Devido aos ciúmes que os outros irmãos tiveram, como vingança, ele fora vendido aos Ismaelitas e levado ao Egito (Gn 37,27-28).
            Contudo, a sorte mudara a partir de um sonho que o faraó teve e no qual José o interpretara corretamente (Gn 41,1-36). Com isso, ele foi premiado como administrador do Egito. Porém, um fato importante que ocorrera foi o reencontro dele com seus irmãos, devido a fome que há dois anos se instalara na terra e ainda haveria expectativa de mais cinco anos sem semeadura e sem colheita, e, sobretudo, por que toda terra vinha ao Egito comprar mantimentos, uma vez havia fartura nesta terra, resultado da interpretação e execução do sonho do faraó. Neste sentido, Jacó pediu aos filhos que viessem ao Egito (Gn 42,1-8).
            Ao ver os irmãos, José, a princípio, deseja vingança, mas como ele erra temente a Deus, não se vingou. Contudo, com discernimento exclamou a seus irmãos: “(...) agora não vos entristeçais nem vos aflijais por me terdes vendido para cá, por que foi para preservar vossas vidas que Deus me enviou adiante de vós. (...) Deus me enviou diante de vós para assegurar a permanência de vossa raça na terra e salvar vossas vidas para a grande libertação” (Gn 45,5-7).
            É interessante observar que a instalação dos descendentes de Jacó no Egito se dará, de fato, envolto de dois argumentos de autoridade: o primeiro, pela iniciativa de José ao dizer: “Subi depressa à casa de meu pai e dizei-lhe: Assim fala teu filho José: Deus me estabeleceu senhor de todo Egito. Desce sem tardar para junto de mim” (Gn 45,9). Já o segundo se dá na figura do Faraó, que ao saber da presença dos irmãos de José, os convida para se estabelecerem na fronteira do Egito, lugar onde há “boas pastagens”[2].
            Entretanto, ir para o Egito é uma atitude segura? Jacó e seus descendentes recebem esta confirmação quando em Bersabéia, onde prestaram sacrifícios ao Deus de seu pai Isaac, recebem um sinal de Deus por meio de uma visão dada a Jacó que dizia: “Jacó! Jacó! E ele respondeu: Eis-me aqui. Deus retomou: Eu sou El, o Deus de seu pai. Não tenhas medo de descer ao Egito, porque lá eu farei de ti uma grande nação. Eu descerei contigo ao Egito, eu te farei voltar a subir, e José te fechará os olhos” (Gn 46,2-4). Ao entrarem nos carros enviados do Egito por José, para lá todos da casa de Jacó[3] partem e se instalam “na terra de Gessen” (Gn 45,10).

1.2. Os primeiros anos no Egito e o início dos sinais de opressão e escravidão
           
Tendo, então, José estabelecido seu pai, irmãos e descendentes no Egito, inclusive na melhor terra, por ordem do faraó Ramsés, conforme explicita Gn 47,11, “aí eles adquiriram propriedades, foram fecundos e se tornaram muito numerosos” (Gn 47,27). Neste sentido, Jacó vivera dezessete anos junto a essas terras, onde também abençoou os filhos de José, Efraim e Manassés (Cf. Gn 48,8-16).
Posteriormente, Jacó abençoara os seus e lhes dara instruções sobre os tempos vindouros (Cf. Gn 49,1-27). Em seguida, sobre o seu leito ele morre (Cf. Gn 49,33). Percebe-se que em tudo o que até agora se realizara com os descendentes de Jacó fora tudo guiado e conduzido pela mão de Deus, a fim de que essa geração, que agora se tornara povo do Senhor, se salve e não pereça.
Desse modo, José e os seus viveram por um bom tempo a mais nas terras egípcias (Gn 49,22-23). Antes, porém de sua morte, José recordara aos seus irmãos: “Eu vou morrer, mas Deus vos visitará e vos fará subir deste país para a terra que ele prometeu, com juramento, a Abraão, Isaac e Jacó” (Gn 49,24).
            Após a morte dos contemporâneos de José, o Egito ficou repleto dos israelitas (dos descendentes de Jacó), que cresciam a cada dia, foram se tornando fecundo e se multiplicando consideravelmente a ponto de se tornarem poderosos, uma vez que o país ficou repleto deles. Como o novo faraó[4] não havia conhecido José, neste sentido, ele percebera que eles poderiam ser uma ameaça ao seu poder e governo. “Eis que povo dos israelitas tornou-se mais numeroso e mais poderoso do que nós. Vinde, tomemos sábias medidas para impedir que ele cresça, pois do contrário, em caso de guerra, aumentará o número dos nossos adversários e combaterá contra nós, para depois sair do país” (Ex 1,9-10).
            A fim de enrijecer e fortificar o Egito, o faraó ordena que os egípcios apliquem uma disciplina rigorosa ao povo de Israel. Por isso, “impuseram a Israel inspetores de obras para torna-lhe dura a vida com os trabalhos que lhe exigiam (...) e tornavam-lhes amarga a vida com duros trabalhos: preparação da argila, a fabricação de tijolos, vários trabalhos nos campos (...)” (Ex 1,11. 14).
No entanto, a questão que mais incomodava o faraó e lhe fazia temer os israelitas era o fato de que “quanto mais os oprimiam, tanto mais se multiplicavam e cresciam” (Ex 1,12). Isso fez com que o faraó Ramsés II tomasse uma séria medida, o qual pode-se denominar como o massacre dos filhos masculinos[5]. Ele ordenou às parteiras do povo de Israel, também denominado como hebreus, de nome Sefra e Fua, que “quando ajudares as hebréias a darem à luz, observai as duas pedras. Se for menino, matai-o. Se for menina, deixai-a viver” (Ex 1,16).
Contudo, elas não o obedeceram, pois temiam a Deus. Mas o faraó ao saber disso e vendo que a geração israelita (hebréia) se multiplicava ainda mais, ele ordena “a todo seu povo: ‘jogai no Rio todo menino que nascer. Mas, deixai viver as meninas’” (Ex 1,22). Estipulado este decreto, assim fora feito. Todavia, um menino foi salvo graças à astúcia de sua mãe. É entregue a uma filha do faraó para ser criado por ela, uma vez que haveria uma aceitação do faraó (Cf. Ex 2,1-9). Quando este cresceu, ele recebeu “o nome de Moisés” (Ex 2,10).

2. O Egito: lugar do encontro com Deus e da manifestação de sua aliança

2.1. A figura de Moisés: Deus escuta o clamor do seu povo

            Imerso em meio às trevas provocado pela escravidão e pela opressão egípcia, eis que um novo sinal da garantia da presença de Deus com o povo se despontará. Este se dará por meio da figura de um homem: Moisés. Como jovem, vendo a exploração de seu povo e intervindo em favor de um israelita sendo maltratado, ele mata um inspetor egípcio e foge para Madiã, onde vai morar com um sacerdote de nome Jetro, com quem se aproxima filialmente e posteriormente toma uma de suas filhas, Séfora, em casamento (Cf. Ex 2,11-22).
            Porém, convém lembrar que, muito mais que enxergar um Moisés revoltado contra as atitudes de maus tratos dos egípcios, deve-se compreender o verdadeiro sentido de sua figura. Em Ex 2,23-25, explicita com clareza o motivo da aparição da figura de Moisés. Assim vai dizer: “(...) os israelitas, gemendo sob o peso da servidão, gritaram; e no fundo da servidão o seu clamor subiu até Deus. E Deus ouviu seus gemidos; Deus lembrou-se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó. Deus viu os israelitas, e Deus se fez conhecer...”. Isso para nos clarear que, na verdade, Moisés é o escolhido de Deus para ser o porta voz da misericórdia divina; para ser sinal da certeza de que Iahweh escutou o clamor e o gemido de sofrimento de seu povo.
            Vale frisar que a vocação de Moisés para o desígnio de libertar o povo da opressão egípcia se confirmara no momento em que Iahweh, por meio de seu anjo, se manifesta a ele por meio da visão da Sarça Ardente. Moisés apascentava o rebanho de seu sogro Jetro. E ao levá-lo para além do deserto, ao Horeb, a montanha de Deus, ai o anjo de Iahweh se manifesta a ele “numa chama de fogo, do meio da sarça (...) e a sarça não se consumia” (Ex 3,2).
            Daí, o Senhor se dispõe a dialogar com Moisés. E neste sentido Ele se revela e lhe explica a missão que estava por vir e que seria confiada a ele. “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. (...) Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir desta terra pra uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel (...)” (Ex. 3,6-8).
            Entretanto, Moisés expressa uma postura de temeridade e medo frente à missão quando Deus o diz: “Vai, pois, e eu te enviarei a Faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os israelitas” (Ex 3,10). Ele se sente incapaz para cumprir tamanha empreitada. Contudo, Deus o adverte e o assegura: “Eu estarei contigo; e este será o sinal de que eu te enviarei: quando fizeres o povo sair do Egito, vós servireis a Deus nesta montanha” (Ex 3,12).
            Porém, Moisés ainda apresenta dois questionamentos a Deus. O primeiro, quanto a seu nome, caso os israelitas o interroguem sobre o mesmo. Deus diz: “Eu sou aquele que é. (...) Assim dirás os israelitas: EU SOU me enviou até vós. (...) Iahweh, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó me enviou até vós” (Ex 3,14-15). Em seguida, Deus lhe dá instruções para a missão (Cf. Ex 3,16-20).
            O segundo, quanto à deficiência de fala dele. “Disse Moisés a Iahweh: Perdão, meu Senhor, eu não sou um homem de falar, nem de ontem nem anteontem, nem depois que falaste a teu servo; pois tenho a boca pesada, e pesada a língua” (Ex 4,10). Mas, nos versículos seguintes, Ex 4,11-16, Deus o adverte a confiar-se mais nele como aquele que vai conduzi-lo e apontar o que deverá ser feito e dito.
            Desse modo, para dar mais segurança a Moisés, Deus lhe dá um intermediário, isto é, Aarão, o levita, seu irmão. Os dois serão instrumentos de Iahweh no Egito. Por fim, o Senhor diz a Moisés: “Toma, pois, esta vara na mão: é com ela que irás fazer os sinais” (Ex 4,17).

2.2. Moisés diante do faraó e o êxodo do Egito

            Frente à ousadia de retornar ao Egito e, sobretudo, de exigir a libertação do povo, percebe-se que de agora em diante só será possível a realização de tal proeza, porque Deus estará continuamente explicitando sua fiel adesão ao povo oprimido por meio de sinais e prodígios.
            Moisés imerso em dúvidas por não saber se o escutarão, faz a experiência do poder dos sinais de Deus. Uma vez assumida uma aliança com o povo, já desejada e prometida desde a geração de Abraão, Deus o certifica de que todos os recursos possíveis para a libertação do povo serão aplicados. Vale destacar que os sinais divinos, sob o sinal da “Vara” (Ex 4,17) dada a Moisés, serão a prova da veracidade da palavra dele e de que Iahweh não está brincando, que quer a liberdade do seu povo. Pragas e males cairão sobre o Egito caso o desígnio de Iahweh seja atendido (Cf. Ex 4,1-9).
            Levando em conta o que fora de antemão anunciado, como foi à recepção das palavras de Iahweh na pessoa de Moisés e Aarão no Egito? O faraó compreendeu e aceitou de imediato a mensagem? Nota-se que, a princípio não, mas depois de tanto sacrifício, o faraó aceitará.
            Tendo em vista um melhor entendimento deste fato, percebe-se que muitos elementos poderão ser encontrados nesta narrativa do encontro com o faraó e posteriormente o êxodo do Egito que ajudarão a averiguar e legitimar a aliança que Deus fizera com os antepassados e que nesta situação será relembrada e atualizada.
            Então, destinado a executar a ordens divinas, Moisés e Aarão chegam o Egito. De início, se reuniram com todos os anciãos dos israelitas. “Aarão repetiu todas as palavras que Iahweh tinha dito a Moisés. Ele realizou os sinais à vista do povo. O povo creu e ouviu que Iahweh tinha visitado os israelitas e visto sua miséria. Ajoelharam-se e se prostraram” (Ex 4,30-31).
            Após tal evento, Moisés e Aarão foram ao encontro do faraó e o disseram: “Assim falou Iahweh, o Deus de Israel: deixa meu povo partir, para que faça uma festa no deserto” (Ex 5,1). Alerta para o fato de que o povo devia partir em marcha de três dias para o deserto a fim de prestar sacrifícios a Iahweh, para que o Egito não seja estigmatizado e atacado com a peste e com a espada.
            Todavia, o faraó não dera atenção, e sim desconsiderou a mensagem por se tratar de um Deus desconhecido para ele. Consequentemente se enfurece e manda os egípcios dificultarem os recursos de trabalho dos israelitas e a exigir um serviço exagerado, aumentando assim a opressão (Cf. Ex 5,6-14).
            Desconcertados pelas novas medidas faraônicas, o povo de Israel reclama com Moisés. Desse modo, ele se lança em oração (diálogo com Iahweh) em favor do povo: “Então Moisés, voltando-se para Iahweh disse: Senhor, por que maltratas este povo? Por que me enviaste? Pois desde que me apresentei ao Faraó, para lhe falar em teu nome, ele tem maltratado este povo, e nada fizeste para libertar o teu povo!” (Ex 5,22-23).
            Ouvindo as palavras de Moisés, o Senhor Deus lhe assegura: “Agora, verás o que hei de fazer a faraó, pois é pela intervenção de mão poderosa que os fará partir, e por mão poderosa os expulsará do seu país! (...) E ouvi o gemido dos israelitas, os quais os egípcios escravizavam, e me lembrei da minha aliança. (...) Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (Ex 6,1. 5. 7).
            Como Iahweh percebera que o coração do faraó está obstinado e recusa a saída do povo, Ele ordena a Moisés que apodere-se de sua vara e vá de encontro novamente com o faraó, a fim de por ela  manifestar os sinais e lançar pragas[6] contra o Egito por causa da “cabeçudice” dele. Assim Moisés fez. E todas as vezes que lançava alguma praga ou fazia algum sinal, Moisés explicitava, na verdade, a ira de Iahweh.
            Embora todos os sinais e pragas lançados sobre o Egito parecessem que em nada afetara o faraó, Iahweh não deixa de anunciar a sua última e avassaladora praga: a morte dos primogênitos. Moisés orienta o povo dizendo: “Assim diz Iahweh: à meia noite passarei pelo Egito. E todo primogênito morrerá na terra do Egito, desde primogênito do faraó (...) até o primogênito da escrava que está à Mó (...)” (Ex 11,4-5).
            Todavia, uma vez cumprida essa promessa, os israelitas não sofreriam também, visto que se encontram situados no Egito? Conforme se verá, em nada a praga exterminadora afetará o povo de Israel, pois ao celebrarem a páscoa (Cf. Ex 12,1-28), festa familiar da primavera, Iahweh instruíra o povo de Israel de como se manterem intactos, ou seja, ao imolarem um animal (carneiro) na páscoa, dever-se-ia marcar a travessa da porta de suas casas com o sangue como sinal para que a praga não lhe inflija mal algum (Cf. Ex 12, 12-14).
            Realizada, então, esta última praga, enfim o faraó ao ver o tamanho clamor dos egípcios devido a tantas mortes, manda chamar, ainda à noite, Moisés e Aarão e lhes ordena: “Levantai-vos e saí do meio do meu povo, vós e os israelitas; ide servi a Iahweh, como tendes dito. Levantai também vossos rebanhos e vosso gado, como pedistes, parti e abençoai a mim também” (Ex 12,31-32).
            Conforme relata Ex 12,37-42, por muitos anos o povo de Israel ficou no Egito, cerca de quatrocentos e trinta anos, e havia cerca de seiscentos mil homens a pé, sem contar suas famílias quando saíram em retirada do Egito. Iahweh com seu braço forte e poderoso os arrancou do Egito.
            Durante a travessia (êxodo) do Egito, dois acontecimentos se sucederão e será para Iahweh um sinal de glorificação. O primeiro é o fato do faraó ter se arrependido e reunir o seu exército em caçada contra os israelitas (Cf. Ex 14,5-13). Já o segundo se refere ao milagre do Mar vermelho ou dos Juncos, ou seja, em que Moisés, ao ver o povo com medo e pressionados por não haver mais saída para escaparem dos egípcios que já estavam se aproximando, estende sua vara, faz o mar se abrir, se dividir, e o povo passar de pé enxuto e se esquivar das mãos dos seus opressores (Cf. Ex 14,16. 21-22).
            Interessante que, ao se cumprir estes eventos, em tudo o nome de Iahweh foi glorificado, visto que os egípcios não conseguiram apanhar os israelitas, pois estes, ao atravessarem o mar, ele se fecha, aniquilando, assim, o exército faraônico. “Naquele dia, Iahweh salvou Israel das mãos dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos à beira-mar. Israel viu a proeza realizada por Iahweh contra os egípcios. E o povo temeu a Iahweh, e creram em Iahweh e em Moisés, seu servo” (Ex 14,30-31).

Conclusão

            Encerrada essa empreitada, a conclusão central que se pode tirar deste estudo é que Deus é fiel à sua aliança desde sempre. Uma vez feita, ele não volta atrás, mesmo se os homens derem indícios de infidelidade ou coisa parecida. Isso se justifica no fato de que a aliança de fidelidade de Deus com os descendentes de Jacó, também chamados de israelitas ou hebreus, é reflexo da aliança feita com Abraão, geração bem anterior a Jacó.
A autenticidade do pleno cumprimento da aliança da parte de Deus pode ser percebida e refletida na análise feita da experiência do povo de Israel no Egito. Desde a sua instalação até a saída (o êxodo), a mão de Deus sempre esteve ao lado dos israelitas. Tanto nos momentos de satisfação quanto nos momentos desafiadores, como a experiência de escravidão em terras egípcias.
Por fim, vale ressaltar que a aliança tomará novo molde com o pacto definitivo feito na pessoa de Moisés em que Deus garante que este mesmo povo receberá a terra prometida. Mas para isso o povo deveria seguir fielmente as normas da aliança, as quais serão dadas a Moisés na montanha (Cf. Ex 23,20-31; 24,1-18). Contudo, não foi o objetivo deste trabalho abranger esta questão e sim realçar mais as veredas da experiência no Egito.




Referências bibliográficas

DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos: dos primórdios até a formação do Estado. Tradução de Cláudio Molz e Hans Trein. São Leopoldo: Sinodal, 1997.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
GALBIATI, Mons. Enrico. A História da salvação no Antigo Testamento. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1978.
KONINGS, Johan. A Bíblia, sua história e leitura: uma introdução. Petrópolis: Vozes, 1992.


[1] Cf. DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos:dos primórdios até a formação do Estado. p. 98.
[2] GALBIATI, Mons. Enrico. A História da salvação no Antigo Testamento. p. 111. Convém conferir também o texto bíblico de Gn 45,16-20.
[3] Cf. Gn 46,8-26, a qual detalha os nomes dos descendentes que vieram com Jacó para o Egito.
[4] Estudiosos apontaram o nome deste novo faraó como Ramsés II (1290-1224 a.C.). Mas, vale ressalta, conforme se seguirá, que este faraó fora um grande opressor do povo israelita, mas o sucederá nas opressões também o faraó Mernefta (1224-1204 a.C.). Cf. GALBIATI, Mons. Enrico. A História da salvação no Antigo Testamento. p. 115.
[5] Cf. KONINGS, Johan. A Bíblia, sua história e leitura: uma introdução. p. 120.
[6] Cf. Ex 7-10. Nestes capítulos há a narração dos vários sinais e pragas infligidos sobre o Egito (Exemplos: A vara se transformando em serpente, a água em sangue, invasão dos garfanhotos, rãs, etc.)

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